Leia atentamente cada texto, para depois responder às questões.
A SOLUÇÃO
O texto abaixo, escrito por Luis Fernando Veríssimo, baseia-se numa das mais lidas e comentadas fábulas de Esopo, “O lobo e o cordeiro”, da qual já temos publicado várias versões e traduções em língua portuguesa. O escritor utiliza a mensagem original da fábula para denunciar situações e posturas que agridem o meio ambiente. A SOLUÇÃO
O sr. Lobo encontrou o sr. Cordeiro numa reunião do Rotary e se queixou de que a fábrica do sr. Cordeiro estava poluindo o rio que passava pelas terras do sr. Lobo, matando os peixes, espantando os pássaros e, ainda por cima, cheirando mal.
O sr. Cordeiro argumentou que, em primeiro lugar, a fábrica não era sua, era de seu pai, e, em segundo lugar não podia fechá-la, pois isto agravaria o problema do desemprego na região, e o sr. Lobo certamente não ia querer bandos de desempregados nas suas terras, pescando seu peixe, matando seus pássaros para assar e comer e ainda por cima cheirando mal.
- Instale equipamento antipoluente, insistiu o sr. Lobo.
- Ora, meu caro, retrucou o sr. Cordeiro, isso custa dinheiro, e para onde iria meu lucro? Você certamente não é contra o lucro, sr. Lobo! disse o cordeiro, preocupado, examinando o sr. Lobo atrás de algum sinal de socialismo latente.
- Não, não! disse o sr. Lobo. Mas isto não pode continuar. É uma agressão à Natureza e, o que é mais grave, à minha Natureza. Se fosse à Natureza do vizinho…
- E se eu não parar? perguntou o sr. Cordeiro.
- Então, respondeu o sr. lobo, mastigando um salgadinho com seus caninos reluzentes, eu serei obrigado a devorá-lo, meu caro.
Ao que o sr. Cordeiro retrucou que havia uma solução:
- Por que o senhor não entra de sócio na fábrica Cordeiro e Filho?
- Ótimo, disse o sr. Lobo.
E desse dia em diante não houve mais poluição no rio que passava pelas terras do sr. lobo. Ou pelo menos, o sr. Lobo nunca mais se queixou.
(Luis Fernando Veríssimo. Santinho. Porto Alegre, L&PM.)
Vocabulário:
Rotary – organização filantrópica internacional espalhada em mais de 150 países. Fundada nos Estados Unidos em 1905, seus associados, inicialmente se reuniam em suas próprias casas, num sistema de rotatividade, derivando daí o nome de Rotary.
Socialismo – doutrina que visa melhorar o bem comum pela transformação da sociedade.
O lobo e o cordeiro agem, falam e raciocinam como se fossem pessoas. Ambos são animais personalizados na história.
Este texto nos sugere que:
os fracos sempre têm uma saída contra os poderosos.
o homem sempre procura seus interesses
os mais fortes acabam tirando vantagens e levando a melhor sobre os mais fracos
CINZAS DA INQUISIÇÃO
1. Até agora fingíamos que a Inquisição era um episódio da história europeia, que tendo durado do século XII ao século XIX, nada tinha a ver com o Brasil. No máximo, se prestássemos muita atenção, íamos falar de um certo Antônio José – o Judeu, um português de origem brasileira, que foi queimado porque andou escrevendo umas peças de teatro.
2. Mas não dá mais para escamotear. Acabou de se realizar um congresso que começou em Lisboa, continuou em São Paulo e Rio, reavaliando a Inquisição. O ideal seria que esse congresso tivesse se desdobrado por todas as capitais do país, por todas as cidades, que tivesse merecido mais atenção da televisão e tivesse sacudido a consciência dos brasileiros do Oiapoque ao Chuí, mostrando àqueles que não podem ler jornais nem frequentar as discussões universitárias o que foi um dos períodos mais tenebrosos da história do Ocidente. Mas mostrar isso, não por prazer sadomasoquista, e sim para reforçar os ideais de dignidade humana e melhorar a debilitada consciência histórica nacional.
3. Calar a história da Inquisição, como ainda querem alguns, em nada ajuda a história das instituições e países. Ao contrário, isto pode ser ainda um resquício inquisitorial. E no caso brasileiro essa reavaliação é inestimável, porque somos uma cultura que finge viver fora da história.
4. Por outro lado, estamos vivendo um momento privilegiao em termos de recons-trução da consciência histórica. Se neste ano (1987) foi possível passar a limpo a Inquisição, no ano que vem será necessário refazer a história do negro em nosso país, a propósito dos cem anos da libertação dos escravos. E no ano seguinte, 1989, deveríamos nos concentrar para rever a “república” decretada por Deodoro. Os próximos dois anos poderiam se converter em um intenso período de pesquisas, discussões e mapeamento de nossa silenciosa história. Universidades, fundações de pesquisa e os meios de comunicação deveriam se preparar para participar desse projeto arqueológico, convocando a todos: “Libertem de novo os escravos”, “proclamem de novo a República”.
5. Fazer história é fazer falar o passado e o presente, criando ecos para o futuro.
6. História é o anti-silêncio. É o ruído emergente das lutas, angústias, sonhos, frus-tações. Para o pesquisador, o silêncio da história oficial é um silêncio ensurdecedor. Quando penetra nos arquivos da consciência nacional, os dados e os feitos berram, clamam, gritam, sangram pelas prateleiras. Engana-se, portanto, quem julga que os arquivos são lugares de poeira e mofo. Ali está pulsando algo. Como um vulcão aparentemente adormecido, ali algo quer emergir. E emerge. Cedo ou tarde. Não se destrói totalmente qualquer documentação. Sempre vai sobrar um herege que não foi queimado, um judeu que escapou ao campo de concentração, um dissidente que sobreviveu aos trabalhos forçados na Sibéria. De nada adiantou àquele imperador chinês ter queimado todos os li-vros e ter decretado que a história começasse por ele.
7. A história começa com cada um de nós, apesar dos reis e das inquisições.
(SANT’ANNA, Affonso R. de. A raiz quadrada do absurdo. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1989) Tendo em vista o desenvolvimento do texto, assinale a opção que justifica o título “Cinzas da Inquisição”:
A Inquisição se transformou em cinzas e deve ser arquivada.
A valorização da dignidade do ser humano é ponto básico da história da Inquisição.
A Inquisição deixou marcas que devem levar a uma reflexão.
A discussão dos fatos relacionados à Inquisição tem se mostrado infrutífera.
A lembrança dos fatos da Inquisição não conseguiu melhorar o futuro.
Com relação aos cem anos da libertação dos escravos e aos cem anos da Proclamação da República, pode-se afirmar, de acordo com o texto, que:
é necessário comemorar as várias conquistas feitas ao longo desses anos.
tanto a libertação dos escravos quanto a Proclamação da República precisam ser revistas e repensadas.
têm sido convocados mais pesquisadores para estudar esse período de nossa história.
esses assuntos vêm sendo constantemente abordados nas universidades brasileiras.
o governo deve dar a essas datas históricas a mesma importância que dá a outras.
O paradoxo da expressão “um silêncio ensurdecedor” indica que o silêncio:
provoca alienação e torpor
leva à paralisação e à inércia
gera atos de violência e loucura
atordoa e aflige
osé Martiniano de Alencar é o principal ficcionista do Romantismo no Brasil. Explorou a lenda, a história, os costumes dos brancos e índios, a política e a vida colonial. Seus romances são divididos em 4 grupos: indianista, histórico, urbano e regionalista. A obra O Guarani, da qual retiramos o texto, faz parte do grupo indianista, onde explora o encontro/confronto entre a civilização europeia e a indígena, de que resultaria uma pretensa civilização brasileira.
O Plano
JOSÉ DE ALENCAR. O Guarani.
Editora Martin Claret, 2004, São Paulo, SP.
O fidalgo, livre do pesar de perder um amigo, assumira a sua costumada severidade, sempre que se tratava de uma falta grave.
- Cometeste uma grande imprudência, disse ao índio; fizeste sofrer teus amigos; expuseste a vida daqueles que te amam; não precisas de outra punição além desta.
- Peri ia salvar-te!
- Entregando-te nas mãos do inimigo?
- Sim!
- Fazendo-te matar por eles?
- Matar e…
O índio calou-se.
- É preciso explicares-te, para que não julguemos que o amigo inteligente e dedicado de outrora tornou-se um louco e um rebelde.
A palavra era dura; e o tom em que foi dita ainda agravava mais a repreensão severa que ela encerrava.
Peri sentiu uma lágrima umedecer-lhe as pálpebras:
- Obrigas Peri a dizer tudo!
- Deves fazê-lo, se desejas reabilitar-te na estima que te votava, e que sinto perder.
- Peri vai falar.
Álvaro entrava nesse momento tendo deixado no alto da esplanada os seus companheiros já livres do perigo, e quites por algumas feridas que não eram felizmente muito graves.
Cecília apertou a mão do moço com reconhecimento; Isabel enviou-lhe num olhar toda a sua alma.
As pessoas presentes se gruparam ao redor da poltrona de D. Antônio, em face do qual Peri, de pé, com a cabeça baixa, confuso e envergonhado como um criminoso, ia justificar-se.
Dir-se-ia que confessava uma ação indigna e vil; ninguém adivinhava que su-blime heroísmo, que concepção gigantesca havia nesse ato, que todos condenavam como uma loucura.
Ele começou:
“Quando Ararê deitou o seu corpo sobre a terra para não tornar a erguê-lo, chamou Peri e disse:
“Filho de Ararê, teu pai vai morrer; lembra-te que tua carne é a minha carne; que teu sangue é meu sangue. Teu corpo não deve servir o banquete do inimigo.
“Ararê disse, e tirou suas contas de frutos que deu a seu filho: estavam cheias de veneno; tinham nelas a morte.
“Quando Peri fosse prisioneiro, bastava quebrar um fruto, e ria do vencedor que não se animaria a tocar no seu corpo.
“Peri viu que a senhora sofria, e olhou as suas contas; teve uma ideia; a herança de Ararê podia salvar a vida de todos.
“Se tu deixasses fazer o que queria, quando a noite viesse não acharia um ini-migo vivo; os brancos e os índios não te ofenderiam mais.”
Toda a família ouvia esta narração com uma surpresa extraordinária; compreendiam dela que havia em tudo isto uma arma terrível, – o veneno; mas não podiam saber os meios de que o índio se servira ou pretendia servir-se para usar desse agente de destruição.
- Acaba! disse D. Antônio; por que modo contavas então destruir o inimigo?
- Peri envenenou a água que os brancos bebem, e o seu corpo, que devia servir ao banquete dos Aimorés!
Um grito de horror acolheu essas palavras ditas pelo índio em um tom simples e natural.
O plano que Peri combinara para salvar seus amigos acabava de revelar-se em toda a sua abnegação sublime, e com o cortejo de cenas terríveis e monstruosas que deviam acompanhar a sua realização.
Após a leitura atenta do texto, responda às questões, assinalando a única resposta correta.
O episódio narrado nos assegura que seu protagonista é:
D.Antonio
Cecília
Peri
Álvaro
O fidalgo considera o índio Peri como um:
adversário
aliado
empregado
amigo
O índio cometeu uma falta:
fugindo ao combate
lutando sozinho
abandonando a família
expondo os amigos
As reticências da resposta do índio (Matar e…) devem completar-se com o verbo:
comer
beber
envenenar
morrer
O índio expôs a vida dos companheiros:
abandonando-os
diminuendo o número de combatentes
chamando para perto os inimigos
obrigando os amigos a salvá-lo
Desejando calar o que fizera, o ato do índio revela:
heroísmo
orgulho
vaidade
temeridade
O que dizem as camisetas
(Fragmento)
Apareceram tantas camisetas com inscrições, que a gente estranha ao deparar com uma que não tem nada escrito.
– Que é que ele está anunciando? – indagou o cabo eleitoral, apreensivo. – Será que faz propaganda do voto em branco? Devia ser proibido!
– O cidadão é livre de usar a camiseta que quiser – ponderou um senhor moderado.
– Em tempo de eleição, nunca – retrucou o outro. – Ou o cidadão manifesta sua preferência política ou é um sabotador do processo de abertura democrática.
– O voto é secreto.
– É secreto, mas a camiseta não é, muito pelo contrário. Ainda há gente neste país que não assume a sua responsabilidade cívica, se esconde feito avestruz e...
– Ah, pelo que vejo o amigo não aprova as pessoas que gostam de usar uma camiseta limpinha, sem inscrição, na cor natural em que saiu da fábrica.
(...).
DRUMMOND, Carlos. Moça deitada na grama. Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 38-40.
O conflito em torno do qual se desenvolveu a narrativa foi o fato de
alguém aparecer com uma camiseta sem nenhuma inscrição.
muitas pessoas não assumirem sua responsabilidade cívica.
um senhor comentar que o cidadão goza de total liberdade.
alguém comentar que a camiseta, ao contrário do voto, não é secreta.
O cabo e o soldado
Um cabo e um soldado de serviço dobravam a esquina, quando perceberam que a multidão fechada em círculo observava algo. O cabo foi logo verificar do que se tratava.
Não conseguindo ver nada, disse, pedindo passagem:
— Eu sou irmão da vítima.
Todos olharam e logo o deixaram passar.
Quando chegou ao centro da multidão, notou que ali estava um burro que tinha acabado de ser atropelado e, sem graça, gaguejou dizendo ao soldado:
— Ora essa, o parente é seu.
Revista Seleções. Rir é o melhor remédio. 12/98, p.91.
No texto, o traço de humor está no fato de
o cabo e um soldado terem dobrado a esquina.
o cabo ter ido verificar do que se tratava.
todos terem olhado para o cabo.
ter sido um burro a vítima do atropelamento.
O homem que entrou pelo cano
Abriu a torneira e entrou pelo cano. A princípio incomodava-o a estreiteza do tubo. Depois se acostumou. E, com a água, foi seguindo. Andou quilômetros. Aqui e ali ouvia barulhos familiares. Vez ou outra um desvio, era uma seção que terminava em torneira.
Vários dias foi rodando, até que tudo se tornou monótono. O cano por dentro não era interessante.
No primeiro desvio, entrou. Vozes de mulher. Uma criança brincava.
Então percebeu que as engrenagens giravam e caiu numa pia. À sua volta era um branco imenso, uma água límpida. E a cara da menina aparecia redonda e grande, a olhá-lo interessada. Ela gritou: “Mamãe, tem um homem dentro da pia”.
Não obteve resposta. Esperou, tudo quieto. A menina se cansou, abriu o tampão e ele desceu pelo esgoto.
BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras Proibidas. São Paulo: Global, 1988, p. 89
Na frase “Mamãe, tem um homem dentro da pia.” (ℓ. 9), o verbo empregado repre senta, no contexto, uma marca de
registro oral formal.
registro oral informal.
falar regional.
falar caipira.
HOMEM NO MAR De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar. Não há ninguém na praia, que resplende ao sol. O vento é nordeste, e vai tangendo, aqui e ali, no belo azul das águas, pequenas espumas que marcham alguns segundos e morrem, como bichos alegres e humildes; perto da terra a onda é verde. Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Ele nada a uma certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes; nada a favor das águas e do vento, e as pequenas espumas que nascem e somem parecem ir mais depressa do que ele. Justo: espumas são leves, não são feitas de nada, toda sua substância é água e vento e luz, e o homem tem sua carne, seus ossos, seu coração, todo seu corpo a transportar na água. Ele usa os músculos com uma calma enérgica; avança. Certamente não suspeita de que um desconhecido o vê, e o admira porque ele está nadando na praia deserta. Não sei de onde vem essa admiração, mas encontro nesse homem uma nobreza calma, sinto-me solidário com ele, acompanho o seu esforço solitário como se ele estivesse cumprindo uma velha missão. Já nadou em minha presença uns trezentos metros; antes não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele passou atrás das árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua cabeça, e o movimento alternado de seus braços. Mais uns cinqüenta metros, e o perderei de vista, pois um telhado o esconderá. Que ele nade bem esses 50 ou 60 metros; isto me parece importante; é preciso que conserve a mesma batida de sua braçada, e que eu o veja desaparecer assim como o vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento, sereno. Será perfeito; a imagem desse homem me faz bem. É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia saber sua idade, nem sua cor, nem os traços de sua cara. Estou solidário com ele, e espero que ele esteja comigo. Que ele atinja o telhado vermelho, e então eu poderei sair da varanda tranqüilo, pensando - “vi um homem sozinho, nadando no mar; quando o vi ele já estava nadando; acompanhei-o com atenção durante todo o tempo, e testemunho que ele nadou sempre com firmeza e correção; esperei que ele atingisse um telhado vermelho, e ele o atingiu”. Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o meu dever, e ele cumpriu o seu. Admiro-o. Não consigo saber em que reside, para mim, a grandeza de sua tarefa; ele não estava fazendo nenhum gesto a favor de alguém nem construindo algo de útil; mas certamente fazia uma coisa bela, e a fazia de um modo puro e viril. Não desço para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a mão; mas dou meu silencioso apoio, minha atenção e minha estima a esse desconhecido, a esse nobre animal, a esse homem, a esse correto irmão. (Rubem Braga) 8. As ondas são várias vezes comparadas a bichos. Na visão do autor, o que as “animaliza” é:
a imagem entrecortada por árvores e telhados
a distância em que ele se encontra do mar
o vento que as empurra para a areia
o movimento do homem que nada
Para o autor, as ondas são classificadas como humildes porque:
são vistas de longe pelo autor.
ficam pequenas frente à grandeza do mar.
parecem subjugadas pelo vento nordeste.
obedecem à ordem para estourar na praia.
A admiração do autor pelo homem que nadava não está justificada em:
fazia uma coisa esteticamente perfeita.
lutava para ser mais forte que o mar.
mostrava virilidade em seus gestos.
havia grandeza na sua tarefa.
A narrativa do texto nos é dada através de uma percepção que é: